Excelente texto sobre o não cumprimento da Lei de Cotas, escrito por Luciano Amato, vice-presidente de Eventos e Relações com a Comunidade da AAPSA – Associação Paulista de Recursos Humanos e de Gestores de Pessoas, que faço questão de compartilhar.
"Nesta semana, a Lei de Cotas para
deficientes (Lei 8.213/91) completa 25 anos. Seria tempo suficiente para
comemorarmos conquistas e avanços, tanto em relação às contratações de PcDs
como à cultura da inclusão nas organizações. Entretanto, a realidade é outra.
Frequentemente, surgem
questionamentos sobre sua efetividade e grupos propondo sua flexibilização.
Porém, devemos nos atentar ao fato: a lei é essencial e os pífios resultados
nos últimos anos são prova.
Dados do Ministério do Trabalho
apontam apenas 381 mil pessoas com deficiência empregadas em 2014, atingindo
apenas 27% de seu cumprimento, com uma variação mínima ao longo dos anos,
conforme mostra o gráfico. Nesse ritmo, serão necessários mais 20 anos para
garantir o cumprimento efetivo.
Muitas empresas ainda resistem e
justificam o não cumprimento da Lei de Cotas por fatores como a dificuldade
para encontrar PcDs, a baixa qualificação, a alta rotatividade e o alto custo
para tornar o ambiente acessível.
Tais observações não se
justificam. O Censo 2010/IBGE identificou 45 milhões de pessoas com deficiência
e, de acordo com pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 6
milhões de PcDs têm perfil para compor a Lei de Cotas. Considerando as 381 mil
vagas ocupadas em 2014, existem 5,6 milhões de pessoas com deficiência
disponíveis para contratação.
Outro dado relevante é que
enquanto as pessoas sem deficiência em trabalhos formais representam 51,7% da
quantidade de pessoas em idade economicamente ativa, as pessoas com deficiência
representam apenas 1,1%. Um número que mostra a desigualdade existente no
mercado.
A questão não é onde
encontrá-las, mas quem as empresas buscam. Em boa parte das organizações a
prioridade é contratar pessoas com deficiência de menor severidade,
restringindo o recrutamento a um pequeno grupo.
A solução é ampliar a contratação
para os diversos tipos de deficiência. O mapeamento dos cargos e funções pode
ajudar, uma vez que será possível compreender quais tecnologias assistivas e
adequações serão necessárias nos processos e postos de trabalho de cada cargo
para ampliar o leque de possibilidades de contratação.
Esse é um primeiro passo para
tornar a empresa inclusiva e acabar com aquela máxima reducionista de “vaga
exclusiva para pessoas com deficiência”. A empresa inclusiva não dispõe de
vagas exclusivas, ela propicia condições para que uma pessoa com deficiência
trabalhe em qualquer área, desde que não traga riscos.
Outro tema em evidência é a
gestão de pessoas com deficiência. Pesquisa do Instituto Ethos nas 500 maiores
empresas do País revela que uma das maiores queixas é a baixa qualificação.
As dificuldades impostas pela
falta de acessibilidade nas cidades e instituições de ensino realmente geraram
uma defasagem de qualificação em uma parcela das PcDs. Entretanto, o cenário
mostra que as empresas estão deixando de contratar inclusive pessoas com
deficiência com cursos superiores por excesso de qualificação.
As empresas deveriam criar
programas internos de capacitação ou contratarem instituições que realizem esse
tipo de serviço. Assim como fariam para um profissional sem deficiência,
treinando-as em seus processos de trabalho e tornando todas as vagas inclusivas
para que as qualificadas não sejam preteridas.
Outra reclamação constante nas
organizações é a alta rotatividade, que alguns justificam pelo fato de a pessoa
com deficiência criar baixo vínculo com a organização e mudar de empresa por
ofertas salariais um pouco mais atrativas. Por outro lado, pesquisas demonstram
que o verdadeiro motivo dessas mudanças são gestores mal preparados e ambiente
inacessível.
É fundamental treinar os gestores
e preparar os colegas de trabalho para compreenderem questões básicas de regras
de convivência e reconhecimento das potencialidades das pessoas com
deficiência. Por falta de conhecimento, é comum subestimá-las, solicitando
atividades de menor responsabilidade. A verdade é que muitas empresas atuam
somente para cumprir a Lei e evitar a multa. Contratam e se esquecem de
realizar essas ações de retenção.
Apesar do atual cenário, podemos
comemorar esse aniversário de 25 anos da Lei de Cotas. Mesmo em uma velocidade
abaixo do que desejaríamos, a data traz o assunto à tona, fazendo com que mais
empresas percebam o valor agregado e os resultados significativos ao
implementarem programas de inclusão reais e consistentes."
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